terça-feira, 14 de dezembro de 2010

“A preguiça e a falta de tempo na astronomia” ou “A vizinhança do Cruzeiro do Sul - vol.1”

Há algum tempo vinha esperando que a constelação do cruzeiro do sul retornasse à minha janela (varanda) de observação leste, que possui vista parcial do setor sul – sudeste.

Após uma sequência de chuvas e eventos aleatórios, surgiu uma boa noite de observação no dia 20/11/2010. Naquele dia estava motivado em espírito, mas o corpo pedia um sono. Curti a vista e acabei tirando fotos de modo displicente. Este “post” fala sobre a vizinhança do Cruzeiro do Sul, sobre seus asterismos que podem ser observados inclusive com um binóculo e como a preguiça pode estragar algumas fotos.


Nas imagens a seguir, para completar a confusão, eu acabei por não registrar e separar cada sessão de fotos de cada objeto observado. Terminei com um total de sessenta imagens. Algumas desalinhadas e destinadas ao descarte, mas que acabaram misturadas com as boas.


Consertar os efeitos da preguiça pode dar mais trabalho do que fazer a coisa certa da primeira vez. Para pessoas ocupadas, o risco é que o conserto sempre acabe ficando para “o amanhã”...


Voltando aos asterismos...


Como o Cruzeiro fica perto do centro polar sul do céu, sua posição relativa ao chão muda muito no decorrer da madrugada. Neste mês, no RJ, a cruz aparece inclinada para baixo perto do horizonte em torno da meia noite e fica na horizontal as três da matina.

Naquela noite registrei, aleatoriamente, três asterismos. Na imagem, a localização dos mesmos em relação ao Cruzeiro no aprazível horário de quatro da matina.


IC2602 Plêiades do Sul

É um aglomerado aberto a 500 anos-luz da minha cozinha. Bem brilhante, pode ser facilmente observado de binóculos.
Quem aprecia vai achar bonito, mas a maioria vai pensar que é mais outro “bando de estrelinhas”.

Dependendo do referencial, esta imagem pode estar de cabeça pra baixo.

As estrelas espalham-se por uma área relativamente grande, para um aglomerado, mas é bem menor e menos impressionante que as Plêiades originais.



NGC4755 ou Aglomerado Kappa Crucis ou Aglomerado Caixa de Jóias

Ao olho nu aparenta ser uma estrela, mas é um aglomerado de estrelas azuis com uma estrela laranja entre elas (daí a associação com uma caixa cheia de pedras preciosas [fico imaginando o que a galera bebia na época desse descobrimento]). Está a 6500 anos-luz daqui.
Em contraste com as estrelas mais novas (azuis), existe uma estrela na fase super-gigante vermelha (fase final da sua vida). Sua cor é alaranjada e dá nome ao aglomerado.

Aglomerado no véu noturno(*).

É um aglomerado bonito de se ver… pena que a minha preguiça do momento não me fez alinhar o telescópio com um pouco mais de carinho... durante a exposição, a câmera não seguiu corretamente as estrelas e em conjunto com o vento e atmosfera, bagunçou um pouco a imagem, como se vê no detalhe.

Fail!



NGC 3532 – Aglomerado Poço dos Desejos

Esse aglomerado chama a atenção pelo tamanho e quantidade de estrelas brilhantes. É bem bonito de olhar e pode ser visto com binóculos. Seu nome faz analogia a moedas de prateadas brilhando no fundo escuro de um poço d’água.

Está a 1300 anos-luz do lugar mais distante que você já conseguiu ir e foi o primeiro alvo escolhido para ser visto pelo Hubble.

Mesmo num telescópio mais modesto como o meu, a imagem é muito bonita!

Alguém fez muitos pedidos...


NGC 3372 - Nebulosa Eta Carinae

A uma distância média de 8000 anos-luz da Terra, a Nebulosa ETA Carinae envolve alguns agrupamentos de estrelas.
Eu amo a minha câmera.


Essa nebulosa compete com a de Órion em brilho e extensão.
Além de ser muito bonita e fotogênica, sua estrela alaranjada mais brilhante (Eta Carinae) é um objeto bem interessante; é uma das maiores estrelas conhecidas da nossa galáxia (tem raio e massa pelo menos cem vezes maior que o do Sol e é cinco milhões de vezes mais brilhante que ele) e há alguns anos atrás, em 1843, a estrela soluçou e expeliu uma quantidade de material inimaginável para fora de si.

Atualmente esse material continua viajando para longe da estrela em alta velocidade. O conjunto agora está agora com um diâmetro algumas centenas de vezes maior que todo nosso sistema solar (mais interminável que uma maratona de Sr. dos Anéis – versão entendida, aproximadamente). Toda esta instabilidade faz a estrela variar seu brilho de tempos em tempos.

A estrela amarelada na parte central inferior desta foto, dá nome à nebulosa da qual ela faz parte.


Desleixadamente, esqueci de bater a foto com o telescópio tampado, de modo a descontar o ruído da câmera e outros vazamentos de luz, como visto no topo à esquerda.
Tecnicamente, a imagem ficou com um pouco mais de ruído... vou tentar repetir ela numa noite mais favorável.

Imagem feita pelo Hubble... um telescópio um pouquinho melhor que o meu. A "explosão" parece congelada no tempo, mas está se movendo muito rápido. A distância e as dimensões do evento são tais que para nós, micróbios, a imagem que vemos pelo telescópio pareça um instante congelado no tempo (*).


Tem mais coisa no entorno do Cruzeiro do Sul que eu quero fotografar... aguardo a melhora do tempo e as estrelas saírem detrás de um prédio que estraga a minha vista. Em breve comprarei uma cobertura com a Megasena de fim de ano!

(*) Comentários no estilo Discovery/National Geographic

2 comentários:

  1. Se eu ganhar na Mega-sena, vou investir em vc! Depois daquela foto de Júpiter faltando uma tempestade, acho que o mundo astronômico está perdendo um grande cientista!!!

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  2. Ok! Depois passo os detalhes da minha conta bancária!

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