segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Colimação por Laser de Newtonianos sem Marcação Central do Espelho Primário

Acredito que dê pra notar pelo título que este post é bem específico...
A idéia é que alguém que tenha o mesmo problema que eu tinha, encontre esta sugestão via São Google.
Evite o coma e não leia este post se 70% do título lhe parecer grego.

Na colimação alinha-se os espelhos para permitir que a luz faça o caminho projetado até os olhos sem que ocorra distorção na imagem. No caso de um telescópio Newtoniano, envolve ajustar dois espelhos de modo que a luz, proveniente do objeto observado, seja levada sem distorções até o ponto de encaixe da ocular, no focalizador.

O espelho primário é o espelho parabólico de grandes dimensões que situa-se no fundo do telescópio. O espelho secundário é um espelho inclinado, que "joga a luz para fora" do corpo do telescópio newtoniano. Nenhum destes dois espelhos é igual ao que temos em casa. Na nossa casa, o material que reflete a luz fica embaixo de um vidro, e na parte de trás, uma camada de tinta impede que o mesmo se danifique. No caso de um telescópio, esse vidro iria distorcer muito a imagem. O material reflexivo, portanto, fica em cima de um vidro especial e altamente polido e preciso. Nada impede que o espelho seja arranhado ou mesmo descame ao tocá-lo. Limpar um espelho de telescópio é algo que se indique apenas para casos extremos, quando a imagem aparece prejudicada (camada bem grossa de poeira).

É possível colimar os espelhos de diversas maneiras, eu prefiro utilizar um laser porque considero rápido e prático. A teoria é simples, a parte central do espelho parabólico, tem inclinação de 90º em relação ao tubo do telescópio. Se os espelhos estiverem alinhados, uma laser que viaje pelo centro dos dois espelhos, irá ir e voltar pelo mesmo caminho.

Mais fácil rabiscar que explicar.
Na foto, eu desviei um pouco o ajuste para que o retorno do feixe ficasse visível. Quando alinhado, ele retorna de onde saiu e não aparece.

Colimador laser instalado. Foto mostra o laser indo para o centro do espelho primário e retornando um pouco fora de onde saiu.
O problema no caso é "onde fica o centro do espelho primário"? Alguns fabricantes de telescópio fazem o favor de marcar o centro do espelho (que não afeta a imagem), mas e no (meu) caso de quem não tem esse luxo?

Alguns tutoriais ensinam a colocar um adesivo no centro do espelho, mas é algo que você tem que fazer sem encostar no espelho e sem ter uma segunda chance. Me conhecendo, eu sei que tenho uma boa chance de colar errado ou estragar o espelho, daí o "meu" método indireto...
 
 A proposta não é muito diferente do que já se faz, primeiro atuar no espelho secundário para que o laser acerte o espelho primário no meio, medir indiretamente, re-ajustar e depois atuar no espelho primário para que o feixe volte ao ponto de partida.

Para medir indiretamente o centro do espelho primário, eu faço o seguinte:
Atuando no secundário, eu jogo o laser no espelho primário o mais próximo que eu consigo via olhômetro. Uso as presilhas do espelho (que no meu estão distanciadas em 120º) para traçar retas imaginárias e achar o centro-mais-ou-menos.
Depois tiro uma foto do primário pela parte de cima do tubo:
Repito com uma foto pela parte de baixo:

Depois jogo a foto em qualquer programa de desenho com vetores, qualquer um que possa colocar uma foto e desenhar uma elipse por cima da mesma. No caso abaixo foi o Illustrator.

O quadrado pertence ao ajuste da elipse. As retas devem passar pelos quadradinhos brancos. A elípse deve ser usada por conta do ângulo da foto do espelho, que termina por não ficar com perfil circular.

Deve-se ajustar uma elipse ao contorno do espelho primário, depois pelos 4 pontos de atuação, deve-se passar retas e no encontro destas situa-se o centro do primário. Repita para as duas fotos. Ajuste conforme necessidade, repita, ajuste, tome um whisky, etc... Eu não sou paranóico com o ajuste.. pra mim o da foto acima está bom o suficiente.

E é só... agora é esperar que "minha idéia" gere a Paz Mundial.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Omega Centauri ou “A vizinhança do Cruzeiro do Sul - vol.2”

Existe um aglomerado de estrelas na constelação de Centauro que em locais de boa visibilidade, pode ser confundido com uma estrela. Se observado, porém, com um binóculo, o que se vê é uma grande mancha clara.

Para achar este asterismo, use um binóculo e encontre o cruzamento entre uma linha imaginária que parte do Cruzeiro (ângulo médio aprox. entre Gacrux e Mimosa) e outra que parte da estrela Hadar e sua vizinha.
No telescópio, após aclimatação da pupila, nota-se que a mancha possui uma textura granular.
A fotografia de longa exposição revela um enxame de estrelas de todas as cores e muito próximas, com formato inegavelmente esférico.

Frame individual com brilho realçado,
Frames empilhados no DSS, imagem em P&B realçada.

Detalhe da parte central - imagem P&B gerada após empilhamento de frames.
Talvez ele não tenha ganhado status de galáxia por não ser grande o suficiente, mas ele impressiona. Se houver algum planeta em meio àquele amontoado de estrelas, imagino que deva ter um céu noturno bem interessante (se é que chega a ficar escuro). Alguns cientistas acreditam que ele tenha sido o núcleo de uma galáxia anã que não desenvolveu, talvez por culpa de nossa própria galáxia.

Enquanto isso na periferia do sistema solar, Vênus continua próximo, brilhando muito pela manhã ao lado de Saturno, que em comparação parece anêmico e distante.
Frame individual. Exposição de 1/50s devido ao brilho excessivo que o planeta reflete. Em relação à Terra, o planeta já se mostra na metade de sua fase crescente.
Empilhamento de imagens no Registax. Não se deixe enganar, Saturno é mais de 800 vezes maior que Vênus.

Boas Festas!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

“A preguiça e a falta de tempo na astronomia” ou “A vizinhança do Cruzeiro do Sul - vol.1”

Há algum tempo vinha esperando que a constelação do cruzeiro do sul retornasse à minha janela (varanda) de observação leste, que possui vista parcial do setor sul – sudeste.

Após uma sequência de chuvas e eventos aleatórios, surgiu uma boa noite de observação no dia 20/11/2010. Naquele dia estava motivado em espírito, mas o corpo pedia um sono. Curti a vista e acabei tirando fotos de modo displicente. Este “post” fala sobre a vizinhança do Cruzeiro do Sul, sobre seus asterismos que podem ser observados inclusive com um binóculo e como a preguiça pode estragar algumas fotos.


Nas imagens a seguir, para completar a confusão, eu acabei por não registrar e separar cada sessão de fotos de cada objeto observado. Terminei com um total de sessenta imagens. Algumas desalinhadas e destinadas ao descarte, mas que acabaram misturadas com as boas.


Consertar os efeitos da preguiça pode dar mais trabalho do que fazer a coisa certa da primeira vez. Para pessoas ocupadas, o risco é que o conserto sempre acabe ficando para “o amanhã”...


Voltando aos asterismos...


Como o Cruzeiro fica perto do centro polar sul do céu, sua posição relativa ao chão muda muito no decorrer da madrugada. Neste mês, no RJ, a cruz aparece inclinada para baixo perto do horizonte em torno da meia noite e fica na horizontal as três da matina.

Naquela noite registrei, aleatoriamente, três asterismos. Na imagem, a localização dos mesmos em relação ao Cruzeiro no aprazível horário de quatro da matina.


IC2602 Plêiades do Sul

É um aglomerado aberto a 500 anos-luz da minha cozinha. Bem brilhante, pode ser facilmente observado de binóculos.
Quem aprecia vai achar bonito, mas a maioria vai pensar que é mais outro “bando de estrelinhas”.

Dependendo do referencial, esta imagem pode estar de cabeça pra baixo.

As estrelas espalham-se por uma área relativamente grande, para um aglomerado, mas é bem menor e menos impressionante que as Plêiades originais.



NGC4755 ou Aglomerado Kappa Crucis ou Aglomerado Caixa de Jóias

Ao olho nu aparenta ser uma estrela, mas é um aglomerado de estrelas azuis com uma estrela laranja entre elas (daí a associação com uma caixa cheia de pedras preciosas [fico imaginando o que a galera bebia na época desse descobrimento]). Está a 6500 anos-luz daqui.
Em contraste com as estrelas mais novas (azuis), existe uma estrela na fase super-gigante vermelha (fase final da sua vida). Sua cor é alaranjada e dá nome ao aglomerado.

Aglomerado no véu noturno(*).

É um aglomerado bonito de se ver… pena que a minha preguiça do momento não me fez alinhar o telescópio com um pouco mais de carinho... durante a exposição, a câmera não seguiu corretamente as estrelas e em conjunto com o vento e atmosfera, bagunçou um pouco a imagem, como se vê no detalhe.

Fail!



NGC 3532 – Aglomerado Poço dos Desejos

Esse aglomerado chama a atenção pelo tamanho e quantidade de estrelas brilhantes. É bem bonito de olhar e pode ser visto com binóculos. Seu nome faz analogia a moedas de prateadas brilhando no fundo escuro de um poço d’água.

Está a 1300 anos-luz do lugar mais distante que você já conseguiu ir e foi o primeiro alvo escolhido para ser visto pelo Hubble.

Mesmo num telescópio mais modesto como o meu, a imagem é muito bonita!

Alguém fez muitos pedidos...


NGC 3372 - Nebulosa Eta Carinae

A uma distância média de 8000 anos-luz da Terra, a Nebulosa ETA Carinae envolve alguns agrupamentos de estrelas.
Eu amo a minha câmera.


Essa nebulosa compete com a de Órion em brilho e extensão.
Além de ser muito bonita e fotogênica, sua estrela alaranjada mais brilhante (Eta Carinae) é um objeto bem interessante; é uma das maiores estrelas conhecidas da nossa galáxia (tem raio e massa pelo menos cem vezes maior que o do Sol e é cinco milhões de vezes mais brilhante que ele) e há alguns anos atrás, em 1843, a estrela soluçou e expeliu uma quantidade de material inimaginável para fora de si.

Atualmente esse material continua viajando para longe da estrela em alta velocidade. O conjunto agora está agora com um diâmetro algumas centenas de vezes maior que todo nosso sistema solar (mais interminável que uma maratona de Sr. dos Anéis – versão entendida, aproximadamente). Toda esta instabilidade faz a estrela variar seu brilho de tempos em tempos.

A estrela amarelada na parte central inferior desta foto, dá nome à nebulosa da qual ela faz parte.


Desleixadamente, esqueci de bater a foto com o telescópio tampado, de modo a descontar o ruído da câmera e outros vazamentos de luz, como visto no topo à esquerda.
Tecnicamente, a imagem ficou com um pouco mais de ruído... vou tentar repetir ela numa noite mais favorável.

Imagem feita pelo Hubble... um telescópio um pouquinho melhor que o meu. A "explosão" parece congelada no tempo, mas está se movendo muito rápido. A distância e as dimensões do evento são tais que para nós, micróbios, a imagem que vemos pelo telescópio pareça um instante congelado no tempo (*).


Tem mais coisa no entorno do Cruzeiro do Sul que eu quero fotografar... aguardo a melhora do tempo e as estrelas saírem detrás de um prédio que estraga a minha vista. Em breve comprarei uma cobertura com a Megasena de fim de ano!

(*) Comentários no estilo Discovery/National Geographic

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Vênus em Conjunção

O Sol (dã)

No final da fase minguante e durante a Lua Nova, a Lua está entre a Terra e o Sol e se os três estiverem bem alinhados, ocorre um eclipse.
Na maioria das vezes, porém, a Lua projeta sua sombra ao largo da Terra. O que vemos daqui então, é a mesma face de sempre escurecida. A Lua então, se perde por alguns dias enquanto divide o céu com a luz ofuscante do sol.

Lua minguante - 04/11/2010

A mesma regra vale para planetas. Do ponto de vista da Terra, os planetas com órbita mais próxima do Sol possuem fases como a Lua.

Vênus em crescente - 04/11/2010

Vênus está em fase crescente, e como ele possui velocidade orbital ligeiramente superior a da Terra, ele estará "meio cheio" em janeiro de 2011. Neste momento, ele está muito próximo da Terra e acabou de ultrapassá-la, fazendo com que sumisse do horizonte oeste e aparecesse agora no horizonte leste, por isso a imagem do mesmo está bem grande, apesar do pequeno aumento (36x) - basta comparar com as fotos do mesmo planeta em posts anteriores.

Simulação da posição dos planetas e lua. Clique para detalhes.


Imagine então como é complicado conseguir tempo bom + conjunção (proximidade aparente entre corpos celestes) + proximidade máxima de Vênus + fase minguante da Lua + fase crescente de Vênus. Essa combinação de fatores aconteceu hoje, lá pelas 5h30 da manhã (no RJ).
Voei na maionese e imaginei que estava em algum planeta com duas luas... o sono só fez a experiência mais real!

Lua e Vênus em conjunção - 05/11/2010

sábado, 30 de outubro de 2010

Mosaico

Lua do dia 22/10/2010, sexta feira.
Mosaico de 5 fotos obtidas através do empilhamento e processamento (Registax) de 59 fotos individuais.
Pentax K-x em foco primário com Barlow Celestron 2x (dubleto acromático).
As fotos foram unidas no Photoshop CS e tiveram ajuste de contraste e aumento na saturação para trazer um pouco das cores do solo.
Total processado: 601MB >> Imagem final: 9,4MB. Neste post segue a versão de 100KB.
Clique para ver a Lua cheia.
Se a Lua tem 3.470 km de diâmetro, acho que esses morros da direita são maiores do que parecem!
Imagem rotacionada 90º. Clique para imagem cheia.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Alguém viu a Lua ontem?

Imagem feita a partir de 10 fotos. Clique para a Lua cheia.
P.s.:
Há um cometa no céu.
Localização aqui:
Hartley - Localização relativa a cidade do RJ

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sob a sombra de Europa (?)

Já faz bastante tempo que observo Júpiter com o novo telescópio, desde que ele "saiu de trás do Sol" esse ano. Agora observo sempre que posso, mas no início do ano eu acordava de madrugada.

Se o planeta tem 4 grandes satélites e o período dos mesmos em torno do planeta é curto, como é possível que até agora eu nunca tenha observado um trânsito?
Não é que às 18h50 de sábado, enquanto estou mostrando o planeta para a minha esposa (coitada), notei um pontinho preto na atmosfera do mesmo?

Jupiter com uma lua (Io) quase oculta no horizonte esquerdo e uma (de duas) projetando sombra à direita. 150x aumento a partir de 5 fotos de 12Mpixels no Registax. Da esquerda para direita, Io, Europa e Ganimedes.

A minha consorte ainda me chamou a atenção para a outra lua no horizonte do planeta.
Imagine se você estivesse na superfície do planeta, no momento em que aquela sombra passou... provavelmente estaria com dores nas costas, asfixiando e sendo esmagado pela atmosfera, mas veria um eclipse bem interessante.

Tive que rodar uma simulação no Celestia para determinar de quem era a sombra e se haveria um outro satélite que não pude detectar e que estaria causando esse fenômeno.
Levando em conta a posição da Terra (com o Sol "à direita") em relação a Júpiter e suas quatro maiores luas, tendo a concluir que era Europa.


Simulação no Celestia - o ponto de vista da Terra ficaria um pouco mais para esquerda.

Europa demora apenas 3 dias para dar uma volta em Júpiter (a nossa lua 28 dias) e possui 1/4 do diâmetro da Terra (quase o mesmo da nossa Lua).

Sabendo disso, dá para imaginar nosso planeta flutuando perto de Júpiter... ia ser uma vista e tanto... antes dele sugar nossa atmosfera, alterar nossa gravidade e causar uma maré tão forte que causaria uma aberração na crosta terrestre. Vulcões entrariam em erupção e o clima enlouqueceria para pior. A vida na Terra mudaria e provavelmente as baratas teriam enfim, o seu reino... pena... vai continuar só na minha imaginação...

Então, neste post ficam 3 perguntas:

Porque eu não via trânsitos antes?
A sombra é de Europa?
Quem realmente matou Odete Roitman (não me convenci da explicação até hoje)?

Tenho certeza que os comentários serão engrandalhecedores.
Obrigado!

Totem

Quando o tempo fica ruim, o Astrônomo fica sem sua diversão.
Cada previsão de tempo é acompanhada de perto e à medida que o tempo passa e eventos se perdem e piora o humor do aspirante a Isaac-Newton-da-vida.
Nessas semanas, nas vezes em que o tempo melhorou um pouco, a lei de Murphy fez com que eu não estivesse em casa.
Mas uma qualidade necessária a todo Astrônomo de Apartamento é a paciência.

Aproveitando uma brecha de 30min, consegui testar o focalizador novo. A imagem não difere em muito da minha melhor imagem com o focalizador Low-Profile Tabajara mas ela foi feita com muito menos esforço.
Sem mencionar que o alinhamento está muito melhor e portanto todas as estrelas da imagem estavam igualmente focadas.





Grande pilar de poeira em Órion e estrlas tênues em meio à nebulosa.

O focalizador novo permitiu colocar minhas lentes de novo e voltar a observar diretamente. Foram alguns meses observando pela tela da câmera e havia esquecido do quanto o céu fica mais bonito olhando diretamente. Para pode trocar do perfil baixo para o perfil alto e voltar a usar as lentes, eu "depenei" uma Barlow vagaba de sua lente e aproveitei apenas a carcaça.

Fiquei surpreso ao olhar Júpiter novamente, estava muito colorido e suas luas estavam muito brilhantes. Seu ápice de proximidade passou e não sei se isso tem a ver com ela, mas o fato é que senti saudade de minhas lentes.
Agora que tenho flexibilidade, não estou limitado a utilizar minha câmera apenas com as fotos de pouco aumento e grande ganho luminoso.

Em outro dia, nova trégua do clima, aproveitei para fazer uma fotografia de projeção utilizando minha lente planetária de 6mm (150x de aumento).

Imagem feita no Registax a partir de 450 frames isolados. Notem pequenas manchas dentro da faixa equatorial.


E já que estava sofrendo a "maldição do equipamento novo", aproveitei para encomendar outra Barlow de qualidade melhor. Ao que parece, a maldição não é cumulativa, portanto sempre encomende mais de uma coisa ao mesmo tempo.

Como falei anteriormente, a abertura do telescópio limita seu aumento. O meu tem 130mm, eu não deveria ir muito além de 130x... 150x eu considero um valor bem razoável. A partir daí é melhor aumentar as imagens no photoshop, porque não é muito diferente do que acontece quando você força a barra.

Mas... com uma barlow 2x nova de bobeira, não resisti e coloquei 300x de aumento no telescópio.

"Façam o que eu digo... "

Na prática não houve muita diferença. Foi divertido, porém, ver Jupiter bem grande.
Em seguida tentei fazer uma foto. Dá pra notar pelo tamanho do totem que não foi exatamente fácil.
No dia seguinte, com mais calma, consegui soltar a câmera aos poucos e compensar o excesso de peso e o desalinhamento ótico com pequenos ajustes do telescópio.
Não preciso mencionar que "respirar" perto do telescópio fazia tudo chacoalhar....

Focalizador HC-1 + Barlow depenada + Barlox 2x + Lente Planetária 6mm + Suporte fotográfico + Camera = Excesso de peso.
Qual a conclusão? Melhorei um pouco a minha técnica, explorei o máximo do meu equipamento ou em outras palavras, não serviu pra p* nenhuma. Mas eu não estou nisso pelo salário, então f*-se.

domingo, 3 de outubro de 2010

Um resumo rápido e porco dos tipos de telescópios

Milhões de leitores (um) me pediram que eu falasse sobre os tipos de telescópios. Internet a fora, esta informação já foi muito discutida e vou tentar resumir (muito) o que sei (pouco, na verdade) sobre 3 tipos básicos de construção.

O objetivo comum nas 3 montagens é levar o máximo de luz possível para dentro do olho através da pupila e criar uma projeção da imagem na retina. Similar a uma lente de aumento projetando a luz de uma janela numa parede.

Explicando de uma maneira simples, todos eles têm que comprimir a luz que entra pela abertura do telescópio, pela pequena área da pupila. Essa luz que converge num ponto, o faz após percorrer uma distância (dist. focal) e se nada for feito, após passar pelo ponto de foco, ela começaria a divergir e nenhuma imagem se formaria na retina.

Nesse ponto entram as oculares, que interceptam os raios convergentes e os “modelam” para que possam atingir nosso olho corretamente. Sempre haverá uma ocular perto do olho, e elas geralmente podem ser trocadas para alterar o aumento ou o tipo.

Para iniciantes, recomendo dois tipos;

as Plossl de bom desempenho e relativamente baratas, indico para pequenos a médios aumentos. Existem de várias marcas e preços.

as Ortoscópicas, de ótimo desempenho, pouca distorção cromática porém com campo de visão mais restrito. Um pouco mais caras, são ótimas para grandes aumentos.

Oculares planetárias procuram o melhor dos dois mundos usando um conjunto complexo de lentes, resultando num preço mais elevado. Torna a observação mais confortável e permite o uso de óculos, já que seu olho pode ficar um pouco mais distante da ocular.

Se você olhar para algo perto através de uma ocular, ela também vai atuar como uma lente de aumento e terá uma distância na qual ela faz foco. A divisão da distância focal do telescópio por esta distância dá o aumento.

Quanto maior a abertura do telescópio, mais luz entra, mais aumento ele pode dar e mais definição/detalhes aparecem.

Quanto maior o comprimento do telescópio e sua distância focal, maior o aumento que ele poderia alcançar (limitado pela abertura).

As construções abordam essas questões de formas diferentes. Tentando conseguir mais abertura ou tentando reduzir o corpo do telescópio ou tentando tirar o máximo da imagem ou qualquer outra coisa...



Refratores

A luz converge por refração, semelhante a usar uma lupa para concentrar a luz do sol num ponto. Para iniciantes e todo o resto.
Rabisquei enquanto falava no telefone.

Manutenção: Fácil, o tubo é fechado, basta limpar as lentes.
Portabilidade e uso: fácil de ser transportado, depois de montar está pronto pra uso, quase sem ajustes.
Qualidade de imagem x preço: boa imagem quando os vidros são de qualidade. Modelos vagabas têm dispersão cromática  - a luz se separa nas cores constituintes - e os detalhes e contraste se perdem, como se 3 imagens deslocadas se sobrepusessem, uma vermelha, outra verde no meio e uma azul na outra ponta. A dispersão é corrigida nos apocromáticos o que custam um pouco mai$.

Até aberturas de 70mm os preços são bem amigáveis, ótimos para iniciantes, depois disso, pela dificuldade de se produzir uma lente tão grande e precisa, o preço dispara.


Refletores (Newtonianos)

Um espelho (chamado primário) no final de um tubo converge a luz por causa de sua curvatura (pode ser um perfil círcular ou parabólico). Essa luz convergente é desviada por um segundo espelho para fora do tubo, onde fica afixado a ocular. Nível intermediário para cima.
Se quiser ver um esquema bem feito, clique aqui.

Manutenção: Pentelho, os espelhos podem desalinhar no transporte ou ocasionalmente e têm que serem colimados. O tubo aberto pode criar turbulência com o ar exterior, principalmente se o telescópio estiver em temperatura diferente do local da observação. O espelho não tem camada protetora, a limpeza é extremamente cuidadosa... colocar o dedo, nem pensar! Nunca limpei o meu. A poeira para atrapalhar, precisa ser muito intensa.
Portabilidade e uso: Indo do mais-ou-menos até o muito difícil. A não ser que ele fique numa posição fixa, ter que acordar na madruga e ter que carregar ele até o ponto de observação (fora ajustar e etc..) pode fazer com que você tenha preguiça. Como (não me lembro quem) disse, “o melhor telescópio/ocular é o que você mais usa”... o que adianta ter um mastodonte e só usar uma vez por mês? Acho que o meu podia ser um pouco maior, mas do jeito que ele está, pesa quase 18kg.
Qualidade de imagem x preço: Imagens ótimas e grandes aberturas por preços medianos. O vidro se situa na ocular, o que reduz muito a dispersão cromática.


Dobsonianos

Simplificando, é um refletor numa base que se apóia no chão ao invés de ficar num tripé. Geralmente não tem engrenagens para movimentar e não precisaria, pois o eixo de movimentação fica na base e seu peso é elevado, o que reduz vibrações. Para quem tem casa de campo e já sabe um bocado.

Manutenção: Similar ao refletor.
Portabilidade e uso: Como carregar um bezerro bêbado. Existem umas miniaturas de mesa, mas não estou contando eles. Quanto maior for, maior será a chance de ficar a poucos metros de onde será guardado.
Qualidade de imagem x preço: Preço proporcional ao tamanho. As imagens são, na sua maioria, as mais fantásticas conseguidas por amadores. Estar em lugar com pouca poluição luminosa é necessário porque a grande abertura realça os asterismos e a poluição luminosa também.


Catadióptricos

É uma construção um pouco mais complexa que mistura refração e reflexão num tubo fechado. Para iniciantes e geral.
Esse desenho aqui, eu vou vender pra NASA!

Manutenção: Similar a um refrator, não precisa de alinhamento.
Portabilidade e uso: Várias reflexões internas garantem um tubo curto.
Qualidade de imagem x preço: Mais caros. A imagem eu acredito que é boa, mas eu nunca olhei. Alguém quer me dar um?  :-)



Referência de lojas:

Binóculos, telescópios e oculares:
http://www.astroshop.com.br/index.asp
http://www.armazemdotelescopio.com.br/loja/

Suporte para câmera (os dois links abaixo vendem telescópios e binóculos de marcas que não são muito bem vistas no meio astronômico)
http://www.binoculos.net/loja/index.php?cPath=34
http://www.paraquedas.net

Sites no exterior:
Ocular planetária de baixo custo (usei para entregar no própio EUA)
http://www.first-telescope.com/telescopes/product.asp/catalog_name/FirstTelescope/category_name/UNCQTF2MDS9V9HAHKP06V15T41/product_id/TMBP04
Meu novo focalizador de perfil baixo (entrega no Brasil)
http://www.kineoptics.com/HC-1.html
BHPhoto (entrega no Brasil)
http://www.bhphotovideo.com/c/browse/Telescopes-Astronomy/ci/3389/N/4294541772

Apontador Laser (para indicar estelas ou para apontar o telescópio - entrega no Brasil - não apontar para a vista)
http://www.dealextreme.com/details.dx/sku.1371

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Porque o clima no Rio de Janeiro está chuvoso essa semana?

Poucas vezes na vida a gente tem a oportunidade de explicar algum fenômeno que impacta de alguma forma, a vida de milhares de pessoas.
Essa semana é uma delas.
A mídia tem atribuído esse clima a uma frente fria ou algo parecido, mas eu sei a verdade!
Chama-se “A Maldição do Equipamento Novo”! Assola todos os astrônomos que investem em algum item e ficam ansiosos durante semanas esperando o mesmo chegar pelo correio!
À medida que a mercadoria chega perto da sua casa, o tempo vai mudando... até chegar ao ponto de você não observar mais nada durante semanas!

O Focalizador Low-Profile Tabajara Extended morreu!
O clima mudou por minha causa... eu comprei um focalizador Crayford Helicoidal da Kineoptics para o meu telescópio. O focalizador Tabajara não era prático e eu usava ele somente com a câmera. Sem contar as folgas que estavam deformando a imagem.

Fim de semana fiz mais um pouco do mede-mede-mede-serra-serra-verifica-serra-verifica-serra-serra-erra-mede-mede-serra-verifica-serra-ajusta-monta-erra-desmonta-mede-serra-ajusta-verifica-monta-ajusta e instalei a nova peça na base modificada do Tabajara.


Os testes se mostraram promissores, e o desalinhamento em relação ao eixo da imagem se mostrou inferior a 0.3º, mas sei que pagarei por minha audácia com pelo menos 1 semana sem ver o céu...
HC-1 montado na base Tabajara após inserção de mais um anel interno. O HC-1 é uma ótima opção de baixo custo em relação aos Crayfords disponíveis no mercado.

Está mais sólido do que aparenta! O atendimento na Kineoptics foi 10... entrega no Brasil e aceita paypal.
Mas quem sabe quando o céu limpo voltar seja um daqueles dias sem poluição luminosa!


Té!

P.S.:
Há outra praga poderosa (ambas você pode achar referências na internet) mais específica que se chama "A Maldição do Telescópio Novo", quando acontece é cruel... capaz de fazer homens feitos chorarem como menininhas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Da vez que perdi a chance de virar milionário e ficar famoso

Quando recebi o novo telescópio em janeiro/2010, Júpiter estava no oeste, se pondo logo em seguida ao Sol. Como a minha “janela” de observação para este setor não é muito boa, tive que esperar o planeta “sair de trás do Sol” para vê-lo no leste.


Simulação utilizando o Celestia da posição dos planetas em março/2010

Em março ele começava a se destacar do sol, e brilhava por alguns minutos antes que o brilho do Sol ofuscasse a sua presença.

O pontinho é Júpiter, ainda muito perto do Sol
Observar algo perto do horizonte, através de uma camada grossa de ar, iluminada e começando a ser aquecida pelo sol é garantia de imagens ruins, mas comecei a registrar o aparecimento do planeta mesmo assim. É legal acompanhar a movimentação dos planetas, principalmente Mercúrio, no seu “ano” de quase 3 meses em torno do Sol.




Jupiter em março/2010 bastante distorcido pela atmosfera.
Mercúrio "do lado do Sol" em fase crescente (outro momento do ano).
Mercúrio umas duas semanas depois, um pouco mais "atrás" do Sol

Em abril já estava mais fácil registrar alguns satélites e alguns detalhes da atmosfera joviana já eram visíveis.

Luas de Júpiter em Abril.

Júpiter em abril/2010.
 
Filme da observação de Júpiter em abril. Ainda não havia colocado o motor para acompanhar o planeta, então é possível ver quão rápido ele passa pelo telescópio nesse aumento. No audio, os sons da natureza que acompanham os astrônomos na madrugada. No caso do Astrônomo de Apartamento, de vez em quando canta uma buzina da mata atlântica.

Júpiter em abril/2010 - imagem resultante do empilhamento dos frames do filme acima. O soft Registax seleciona as imagens menos distorcidas, alinha as mesmas e as empilha, destacando detalhes e sumindo com efeitos transitórios como ruídos e algumas distorções.

Nesse momento comecei a dar falta de uma das faixas equatoriais, mas como minha referência anterior era ruim (meu outro telescópio), eu cheguei a conclusão óbvia de que eu estava fazendo alguma caca ou minha ocular não era boa o suficiente ou que eu precisava de um telescópio maior ainda... Qual seria a chance do planeta ter sofrido uma mudança radical e de proporções históricas?



No dia 12/05/2010 tirei uma boa foto do planeta (esse assunto já estava esquecido a essa altura) e no dia 14/05/2010 vejo essa reportagem no Globo Online. A explicação do fenômeno veio em junho.


Minha melhor imagem de Júpiter feita com uma câmera Panasonic emprestada de um amigo solidário à causa. A faixa tinha se reduzido a um risco...
Anthony Wesley, da Austrália fez sua descoberta no início de maio.

“Eu já sabia!” foi o pensamento... Fiquei bolado. E fiquei bolado com o que havia acontecido ao planeta também. Depois pensei na multidão que deve ter observado o planeta e não reportou isso. Júpiter é um planeta muito bonito e colorido... é figura fácil pra qualquer um que observe o céu.

Meus planos de sucesso foram adiados... por enquanto... estou jogando na Megasena e não tem como esse plano dar errado.

Aproveitando o post, essa semana Júpiter está no ponto mais próximo da sua trajetória dos últimos 50 anos, vale uma olhada, mesmo que sem equipamento. Ele está onde o sol nasce, logo após o anoitecer, é a "estrela" mais brilhante no céu. Segue reportagem do mesmo jornal (para manter a uniformidade).




Os planetas em 21/09/2010 - Note a Terra "perto" de Júpiter.
Inté!